terça-feira, 21 de janeiro de 2014

já que falas nisso

É uma pergunta interessante Luís. 

Há quem diga que era isso que o Zeca Afonso queria afirmar de uma forma literal: o povo é quem mais ordena, sempre e em todo o lado. 
Mas há também quem ache que esse dito é discriminatório para a grande extensão de área rural do nosso país, pelas palavras que lhe seguem: o povo é quem mais ordena, dentro de ti ò cidade. Já passei por aldeias onde ouvir o nome Zeca Afonso é sacrilégio, por se pensar que a cantiga do homem foi forma de incentivo ao despotismo fora dos grandes centros urbanos. 
Uma terceira facção, menos falada nos dias de hoje, defende que a intenção do Zeca era somente despoletar uma comuna popular, bem contida em Grândola. Mais, essa forma de governo haveria de promover Grândola de vila a cidade, mal o povo fosse soberano.

Das três uma, ou cidade é uma forma de alegoria e a cantiga diz respeito ao país inteiro; ou cidade utiliza-se com o propósito de afirmar que o povo só conseguirá ordenar longe das zonas rurais; ou o povo, na realidade, só tem o direito de ordenar em Grândola.

Não sei a resposta à tua pergunta, o meu coração divide-se pelas três hipóteses. O Zeca Afonso morreu. Mas a memória histórica do nosso Portugal não pode resvalar quanto a esta questão. Acho, sinceramente, que devíamos de uma vez por todas sondar os portugueses e democratizar uma resposta para essa dúvida acutilante. É claramente uma matéria de consciência. Proponho um referendo. Talvez estejas em melhor posição para fazer chegar esta proposta à JSD. Continuava a custar dinheiro e preencher agenda política, mas referendar este tema até tem a pequena vantagem de não estar a perguntar ao povo o que acha acerca de vedar direitos e discriminar uma parte desse povo.

1 comentário:

  1. Eu hoje ia responder-te, mas esta tua fuga à minha questão foi tão boa, teve tanta classe, que preferi voltar à ficção. Um dos melhores posts desta nova vida d'A Mentira, sem ironias. Abraço

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