quarta-feira, 20 de novembro de 2013

uma fotografia

Escrevo este pedaço de texto antes dum jogo de futebol importante. Suécia e Portugal vão opor-se para decidir que equipa estará presente no mundial do Brasil, e seria agora fácil adivinhar os rumos deste conversa. As mentes afectas ao mundo desportivo estarão a imaginar uma crónica futebolística, uma dissertação acerca da necessidade de um Patrício moralizado ou um Ronaldo igual a si mesmo. Os mais interessados por política internacional poderiam imaginar uma discussão acerca do fervor nacionalista latente, do jeito com que os campeonatos de selecções alinham as agulhas patrióticas, da mesma forma que em formato violento o fizeram as guerras dos séculos passados. Talvez haja ainda quem se enamore por jornalismo cor-de-rosa, e nessas cabeças se imagine um post de manifesta indignação por faltarem entrevistas ao Figo e companheira sueca Helen, a indagar se a emoção do futebol aliada ao patriotismo supracitado têm capacidade sísmica para abanar um lar.

Apesar de gostar de tudo isso – futebol, política, do Figo e da Helen – não entendo nada dos seus meandros.

Vou por isso utilizar este espaço para tirar uma fotografia. Daqui a pouco mais de uma hora, saberei o resultado do jogo. Agora resta-me a especulação e a incerteza. Com estas palavras imortaliza-se a dúvida. Quando amanhã copiar e colar este texto no espaço devido, vou lembrar-me da emoção com que aguardo o momento e das duas uma: ou rio da patetice de tentar guardar para sempre a triste incerteza sobre um momento que afinal se revelou feliz, ou vou tentar por tudo recordar a felicidade da dúvida acerca de um desfecho desgostoso. Tal como uma fotografia que é necessariamente incompleta no instante em que se tira, ganhando significado à medida que avança a história dos objectos que lhe dão cor. Como efeito paralelo, sei que pela primeira vez escrevo algo de cariz actual sabendo que será publicado como algo desactualizado. Serve isto então para medir a curta distância entre a notícia e a história. Sei também que, Figo, se me ouves, obriga a Helen a fazer o mesmo, tirar uma fotografia ou deixar por escrito e assinado todas as baboseiras mentirosas que são fruta destas épocas

- Não, claro que vamos viver o jogo de forma saudável, não haverá retaliações, que ganhe o melhor, desportivismo acima de tudo,

acredita, não há sexo se Portugal for apurado.

Vou embora. O jogo vai começar.

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