quarta-feira, 27 de novembro de 2013

um provérbio

Dei com um provérbio curioso. Dizia que 'viajar é a única coisa em que podemos gastar dinheiro e ficar mais ricos'. Nem fui eu que o encontrei, foi o provérbio a mim. Estava escrito numa página qualquer, em busca de um leitor, caí ao pé dele e apanhou-me. Aliás, nem sei se é um provérbio, mas é curioso.

Curioso porque assume uma definição específica de riqueza. Afirma que essa não depende do dinheiro. Depende das vivências, de lugares conhecidos e pessoas descobertas (ou vice-versa), da novidade e da aventura. Se viajar é isso, mudar coisas do pote da novidade para o pote das antiguidades o provérbio torna-se terminante: ser rico é coleccionar velharias.
Por outro lado dá a machadada final na eficiência dos mercados. Se realmente existir o lugar mágico onde oferta e procura se equilibram de forma eficiente, o preço da transacção será perfeito isto é, a minha compra será feita pelo valor que o produto intrinsecamente vale. O dinheiro que gasto é exactamente igual ao valor daquilo que agora adquiri: uma viagem. Não estou mais rico, nem mais pobre. O provérbio torna-se terminante: os mercados eficientes não existem.

Mas isto são graçolas mascaradas de coisa séria. Os provérbios são para ser levados de forma leviana. Foi isso que fiz quando há três ou quatro dias estava indeciso sobre que livro comprar. Na loja, carregava parvamente dois exemplares, tolhido por uma guerra entre prós e contras. Lembrei-me, com um acaso que não sei justificar, do 'viajar é a única coisa em que podemos gastar dinheiro e ficar mais ricos'. Comprei o Viagens e outras Viagens do António Tabucchi. Há quem diga que ler é viajar, e duvidando disso, juntei a tónica de decidir ler um livro sobre viagens. Mesmo que o sofá não ganhe asas, hei-de enriquecer um pouco, julguei.

Agora que as peças se juntam, apercebo-me daquilo que carregam os provérbios.
Se pensarmos muito neles, deixam de fazer sentido.
Se os usarmos de forma leviana, levam-nos por caminhos estranhos face àquilo que originalmente pretendiam enunciar.
Se os usarmos e o resultado não for agradável, nunca nos recordaremos do seu uso, não o iremos publicitar, o esquecimento ditará a sua sina.

E aqui estamos: acontece que o tal livro que comprei é bem bonito.

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