quarta-feira, 6 de março de 2013

o título é Zé Pedro no parque dos reis

No parque dos reis – era assim que se chamava, apesar de nunca ninguém ter viso por lá um monarca para amostra – o Zé Pedro alimentava os pombos com os resquícios do seu almoço, dando a este cenário laivos de cliché ou, no mínimo, vulgaridade cénica. Aos poucos o céu começava a chover, ao passo que ninguém no passado conjugou de forma tão banal um verbo impessoal numa pessoa gramatical. Os pombos amontoavam-se na calçada portuguesa, num rodopio que procura retirar monotonia a este pequeno texto, doando-lhe a imagem dinâmica de uma bando de aves a lutar por dúzias de migalhas. O Zé Pedro insistia em esfarelar o resto do pão centeio, ao mesmo tempo que sujava a sua camisola velha, rota, única, tingida ao ponto de toda a gente que esteja a ler isto ficar com a certeza do Zé Pedro ser pobre, mendigo até. E depois tudo o que se subentende, que este é um manifesto político, uma sátira social, que não é acaso que o parque se chame dos reis – apesar de nunca nenhum monarca lá ter ido - e menos acaso é nesse parque estar um mendigo a partilhar o seu parco almoço, com animais ingratos que voarão mal tenham a barriga cheia.

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