sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

E a moral é: 'Take care of the sense and the sounds will take care of themselves'


‘Mãe, mãe não encontrei o Amor!’ — ‘E procuraste debaixo do sofá, filho?’ O Amor não se encontra debaixo do sofá. (Há quem o encontre em cima do sofá: Amor, Paz, Paz e Amor e ganzas.) Não se preocupem, não vos vou falar de Amor, não acabei de vos dizer que o não encontrei?!
Quando era pequenino pensava que as nuvens estariam muito próximas, que me bastava subir aquele prédio de quatro andares para tocar. (Também achava que era profundamente estúpido os outros meninos pintarem em tons de azul as nuvens: ‘azul é o céu!’…na mesma linha, as uvas eram verdes e as maçãs amarelas, mas isso tinha a ver com a minha avó comprar apenas uvas brancas e maçãs golden. Eu não conhecia outras, uvas maçãs ou avós.)
A Lua. Quando somos pequenos queremos saber o que são as coisas e o porquê das coisas. Muitas vezes porém, contentávamo-nos com os nomes das coisas. ‘Mãe, o que é aquilo ali no céu?’ — ‘É a Lua, meu filho.’ Mas aquilo não é ‘a Lua.’ Falhou o artigo. ‘Lua’ é o nome de uma lua, a nossa. Se a mãe lhe dissesse, ‘Ah, aquilo é uma lua’, ela estaria correcta. A Lua é uma lua, a nossa.
Para o (grande) Daniel Tosh, essa seria the ultimate prank, educar um filho com as palavras trocadas. Chamar os morangos de ‘bananas’, as cadeiras de ‘beterrabas’ e a TV de ‘camarão’ (Algo me diz que estou com fome…) Apesar de engraçado, não o devo fazer. Ao invés, a alternativa menos arriscada: versões politicamente incorrectas dos contos infantis: a capuchinho má, o lobo mau bom. That would mess’d them up quite enough.
Preferi não o fazer.
A academia produz muita treta. Em estudos organizacionais como em outros, reina o senso-comum. Aparentemente, tudo o que se diz, a gente já sabe — ou já leu algures. Isto é em boa parte verdade e nem os investigadores pretendem outra coisa quando resolvem testar certas platitudes acerca do desempenho, das emoções, etc. Testam cientificamente lugares-comuns que são como que hanging hypotheses. Porém, não é difícil encontrar no senso-comum teses contrárias. Por isso, em boa parte, não importa que lugares-comuns os investigadores testem pois tudo é um lugar-comum algures. 
O que nestes estudos importa é, em boa parte, fixar termos, estabelecer uma linguagem comum. Conhecemos várias vantagens de tal estabelecimento. Permite, entre outras coisas, definir um common ground a partir do qual se geram discussões, regradas e, consequentemente, resultados. A linguagem deve ser neutra, claro está (e, ‘pois…’). Mas existe outra vantagem que quero destacar: evita que cada um escreva para si, o individualismo científico, traduções e acusações (‘Ah, mas fulano y tal já escreveu isto’ — por outra palavras, é verdade — ‘por isso, fulano x não é original!’ Que parvoíce! O orgulho de infirmar a originalidade de um investigador/autor.)
A partir do momento que os termos estão fixos e a linguagem bem formada, não existe mais espaço para dizer o mesmo por outras palavras. Como tal, a invenção será tendencialmente real e nunca literária. Seja x um tópico, xn uma tese sobre x e k, l e m modos de falar sobre x. Fixado que está k, quem quer que diga x1 terá que dizê-lo por meio de k (<xnk>). Dificilmente alguém se faz passar por inovador, avançando com x1 com linguagem m, quando <x1m> = <x1k>. Não se diz o mesmo por outras palavras; a repetição é imediatamente notada — passa a ser ‘divulgação.’ A invenção e a acumulação de conhecimentos são pois genuínas.
Arganaz dixit

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