quinta-feira, 6 de setembro de 2012

O velho namoro da maioria da imprensa com o Bloco

A notícia do Público começa assim:
Aos 61 anos, João Semedo será coordenador do Bloco de Esquerda (BE), em paridade com a coordenadora Catarina Martins. A solução ficou fechada segunda-feira em reunião da comissão política com os deputados e os eurodeputados e está formalizada numa adenda à moção de estratégia para a Convenção de Novembro. Aí fica estabelecido que “os dois primeiros nomes para a Mesa Nacional, um homem e uma mulher, são os representantes políticos e institucionais do Bloco e coordenam a sua Comissão Política”.
Imaginem agora por um momento que, em vez de estarmos a falar do Bloco, estávamos a falar do PSD, do PS ou do CDS. Que se escrevia que um órgão de topo de qualquer desses partidos tinha “fechado” a questão da liderança meses antes da realização de um congresso. Que se admitia que essa questão, apesar de dividir um desses partidos, ia ser meramente “formalizada” no Congresso. Não só é impensável que um qualquer jornal português pudesse apresentar tais factos tão pouco naturais com a naturalidade com que está escrito este texto, como já teria caído o Carmo e a Trindade enão faltariam comentadores a verberar a falta de democracia inerente a tais tipos de procedimentos.
O que se está a passar com a sucessão de lideranças no Bloco é pois muito revelador. Por um lado, mostra como esse partido é, estruturalmente, um partido com uma cultura tão anti-democrática como a do PCP, só que disfarçada. Aquilo que seria normal em qualquer partido democrático – uma disputa aberta da liderança entre pessoas e projectos alternativos – continua a ser tabu no Bloco, como é no PCP, como é em todas as formações herdeiras da tradição leninista do “centralismo democrático”. Nestas alturas percebe-se melhor qual a real natureza do Bloco.
Por outro lado, este episódio também revela a forma indulgente, compreensiva, no fundo sempre simpática, como a generalidade de imprensa continua a tratar o Bloco. Nenhum outro partido português, nem o PCP, poderia esperar um parágrafo tão alinhado como o que citei. O que também ajuda a perceber a influência que o Bloco chegou a ter.

[Por José Manuel Fernandes, via Blasfémias]

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