sábado, 29 de outubro de 2011

the meaning of life (II)

A partir das cinco da manhã os corpos deambulam cansados de ter direção nos passos. António entrou no bar sem saber porquê (nunca soube!), a partir das cinco da manhã os porquês perdem-se no frio da noite. Entrou. Conhecia desde sempre a mulher do balcão, feia na forma despegada do mundo com que enchia os copos velhos. António chamava-lhe menina, alheado da sua idade avançada. Reconheceu ao fundo o maneta. Pelo tardar da hora já devia ter contado as suas histórias de guerra dez vezes. Acenou-lhe o tempo necessário para o tomarem por simpático, sem cair no exagero de ser fraterno. A fraternidade esgota algibeiras, por aqueles lados. Sentou-se ao balcão. Havia barulho no ar, gritos. Um corpo adormecido a dois bancos de si podia estar morto (estava?).

António sentia-se sereno. Sabia que lá fora era Outono e ali dentro era apenas a sua casa. A menina do balcão (não menina, mãe) perguntou já chegaste? e António disse não, que só chegaria realmente quando o chão fossem cacos de vidro, o ar fosse somente cheiro a álcool e a música o silêncio de inalar sozinho o último bafo da noite.

Sem comentários:

Enviar um comentário