terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

and now for something completely different (IV)

A Novela

Desde que a Aldeia aparece nos manuais de história que o Oito é o seu habitante mais afável. Correm boatos que não é como os outros residentes, que em vez de respirar graceja, e isso, é o que lhe enche os pulmões de vida. Chega, não obstante, a ser irritante, como daquela vez em que empurrou o Nove do sexto piso do edifício da junta de freguesia. O Nove era enfezado e passava os dias a regar as plantas da Aldeia. Era organizado, meticuloso e aborrecido. Numa das vezes em que regava papoilas de uma varanda, o Oito encontrou-o e deteve-se, caminhou em bicos dos pés e deu-lhe uma pancada nas costas como quem diz Então pá! e o Nove, por ser assustadiço, deu um salto e caiu da varanda. Não se sabe se foi descuido ou se houve pitada de pré-meditação, o certo é que o Oito há muito se queixava de perseguição, murmurando achar que o Nove andava atrás dele, sempre e para todo o lado. Quando caiu, o Nove partiu a perna, mas o que mais o chateou foi não ter conseguido impedir que a sua cabeça fosse esbarrar contra o Três. Se há habitante contra quem não queremos esbarrar , é o Três. O Três é um ex-militar que combateu em todas as guerras que envolveram a Aldeia. Robusto, o treino marcial deu-lhe músculos curvados e a guerra deu-lhe o sentimento animal de contrair tédio em tempos de paz. Tédio que procurava acerrimamente afastar em brigas mais ou menos regulares. Por isso, ninguém queria esbarrar com ele. Se o Nove ainda tivesse perna, certamente não iria esbarrar com ele. Após a colisão, logo o Três pegou na cabeça que contra ele foi e pensou, com o cérebro de quem não deve muito à astúcia, que aquela bola algo teria a ver com o Zero. Foi então tocar à campainha do loft onde vivia o Zero, que rapidamente apareceu à porta, de roupão e a fumar. Perguntou o Três, O filho é teu? Pouco se sabe acerca do Zero. É um habitante que se não existisse, tinha que ser inventado. O Zero respondeu Vai-te fuder e começou a chorar. Dizem que o Zero é estéril. Claro que também ouviu os ensinamentos, Crescei e multiplicai-vos, mas até agora, tudo o que conseguira foi crescer. O Três sempre achou o Zero um pouco dado a demências então, não insistiu na briga, limitou-se a cuspir na porta e bramir Não vales nada. Mal o Três sabia, que o Zero era de direita.

2 comentários:

  1. Um grupo de estudantes gritava numa manifestação:
    - Revolução! Revolução!
    Mas lá do fundo ouvia-se um que dizia:
    - Menstruação! Menstruação!
    Os colegas viram-se para o colega e dizem:
    - Ó pá, não é menstruação, é revolução!
    Responde o estudante:
    - Não interessa! É preciso é que corra sangue!

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  2. hahahhahahaha.
    Confesso que fiquei surpreendido por saber que as piadas do Fernando Rocha ainda se usam.
    Espectáculo.

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