sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Aula nº 7

Sumário:
-A greve é um fetiche?
-Parar um país é anti-democrático?



Na minha modesta opinião, não há greves boas e, em situações “normais”, ninguém desejaria uma. É um dia de ordenado não ganho, é o transtorno de ter transportes parados, é a chatice de viver à custa de serviços mínimos ou ainda a aventura de arriscar oferecer à entidade patronal uma razão atendível para uma dispensa de serviços. Se quiserem, o PIB não cresce e a despesa não diminui, aceito. O que acontece, é que pacotes de medidas onde os salários são reduzidos, os abonos de família cortados, as prestações sociais diminuídas, as pensões congeladas e os impostos (não progressivos) aumentados, no país em que um quinto da população vive a baixo do limiar da pobreza e os cinco maiores bancos lucram mais por dia 4 milhões, não pode e nunca poderá ser uma situação normal. A greve assume assim o papel de mal necessário, de arma de recurso das classes ofendidas. Daqui distingo três vias: pode a greve ser considerado acto de mera raiva pela consciência de que a vida como até agora tem sido, vai piorar, pode a greve ser um protesto construtivo de combate por uma alternativa ou pode a greve ser o medir de forças entre trabalhadores e capital financeiro. Gostaria imenso de perscrutar cada um dos pontos! Tenho no entanto, neste momento, falta de tempo crónica.
Acrescento só, e no âmbito da terceira alternativa, que acho piada quando ricos moralistas vaticinam que com o aumento da dívida pública e a falta de sexappeal para seduzir os mercados financeiros, no médio prazo, podemos até ficar sem capacidade de importar combustível. Pois bem, em frança viveu-se mesmo o drama, escassez de gasolina. Não por falta de liquidez, mas porque os trabalhadores das refinarias decidiram não trabalhar. Efeito colateral da greve: lembrar o que anda esquecido, que o maior activo de uma empresa e de um país, são os seus trabalhadores. Justamente os mais ostracizados pelas medidas correntes.
Agora, perguntar se é pouco democrático parar um país inteiro? Opá, podiam parar uma cidade, ou uma aldeiazita... mas não sei se assim o mediatismo pretendido teria o sucesso suficiente para o assunto ser falado no eixo do mal, e estar a ser referido neste blog. Se um país pára, só pode suceder que o grosso da população assim o queira. Mais, fizeram uma sondagem e 70% dos franceses apoiam a greve. Então, e afinal de contas, o que é democracia?

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