sábado, 19 de junho de 2010

de mim, digo que gosto bastante: do simbolismo à métrica, do humor à ideologia de fundo, há uma fonte que secou.


Há quem, por uma certa distância e quota parte de mistificação, se vá da morte libertando, mesmo sem que esta chegue a causar o constrangimento final. Vejo o Saramago como um desses seres longínquos, a quem a morte empurra apenas uns centímetros para trás, e coloca para lá do limiar da não mais produção literária. O afecto e proximidade que tinha pelo homem, não vão além da proximidade e afecto que sinto ao ler a sua obra e se vão, conseguem apenas nesta altura roubar-me a pena de saber que mais uma pessoa que nunca vi na vida, morreu. O mundo ficou mais pequeno, porquê daqui para a frente, ler uma frase de Saramago é saber que há menos uma frase no domínio do Saramago desconhecido. É saber que esse domínio não vai voltar a crescer e ter receio de chegar a uma qualquer última página e pensar, bolas!, não há mais Saramago para ler que me traga a surpresa necessária à emoção. Acho que o que sinto se resume a esta claustrofobia que põe na cabeça a ideia que as coisas acabam, e se é dia de pesar para os que como eu conhecem o Saramago feito das palavras e não da carne, que o seja pela consciência que não voltará a haver tesouros nascidos da sua escrita. Nunca mais.

1 comentário:

  1. Estava a espera deste momento à já muitas horas. Estava a ver que nunca mais cá postavas a homenagem. Eras a pessoa indicada apenas.

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