domingo, 4 de abril de 2010

A revelação ao relento

Ouço atrás de mim a repetitiva voz da repórter da Sic Notícias.

O meu prezado avô, que não tive o prazer de conhecer, procurou outra vida num incrível mundo novo. Foi com nada senão esperança, e almoçando e jantando do mesmo recipiente frio, carregando o peso de uma responsabilidade que escolheu e dormindo ao relento construiu do vazio uma vida para si e para os seus que nunca construirei com tudo o que já tenho hoje. Com o tecto que tenho hoje.

E ouço atrás de mim aquela repetitiva voz que me captou a direcção dos ouvidos. Grupos de jovens dormem ao relento à porta do pavilhão atlântico para um concerto dos Tokio Hotel que será, sei lá, dentro de uma semana? Eu percebo esta orgia histérica de uma juventude de quem já não espero mais que uma enfadonha masturbação crónica deste nada vazio oco que consome sua alma que desprezo. Com tristeza. O que de facto me merece espanto são comentários orgulhosos dos progenitores de tais criaturas aprovando tal demonstração pirosa de consonância com actos de debilidade mental universais. Dizem, de boca cheia, sorriso e camisa Lascoste que iriam com os filhos até à China, se eles quisessem, dormir num relento, digamos, um bocadinho mais opressivo.

Esta geração não precisou dormir ao relento. Mas acham fixe e cool os seus filhos dormirem. Por isto. Por isto, até na China! Por isto...

E consegui perceber quem foram os Portugueses que re-elegeram Sócrates.

Caramba, são tantos.

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