domingo, 25 de abril de 2010

a liberdade do aguiar

Antes do 25 de Abril de 74, já havia homens livres em portugal, homens que não saíram ás ruas ao som da grândola vila morena.

"Em 1954, Ricardo Espírito Santo acompanhou o presidente da República, Craveiro Lopes, numa viagem de barco a Angola e São Tomé e Príncipe. Esteve fora sete domingos: apenas num não conseguiu enviar telegramas dirigidos a «sua excelência o presidente do Conselho» e assinados, simplesmente, Ricardo. Nos seis que enviou, a falta que sentia dos encontros com Salazar foi sempre manifestada de forma crescente: «Sigo bem mas com saudades», escreveu no segundo, a 31 de Maio; a 20 de Junho, manifestava-se «cheio de saudades»; na mensagem do domingo seguinte lia-se: «As saudades são cada vez mais maiores»; e no último notava-se o alívio por estar quase a regressar: «Vou mais contente a pensar que se os deuses nos forem propícios estarei aí no próximo domingo e poderei matar as saudades que já pesam no meu coração. Gostei muito de o ouvir e espero que este já o encontrará no forte." (investigação levada à cabo pela Sábado, com base em documentos de acesso público presentes no arquivo nacional.)



O 25 de Abril foi, concordo e fico contente, o abrir portas à livre iniciativa privada e o limitar da acção de grandes grupos (ou famílias) monopolistas, altamente favorecidos pelo estado. Repito, antes já havia homens livres. Muitos se escandalizam com a limitação da liberdade desses homens após a revolução dos cravos. Ainda que temporária, ganhara-na, outros: os que trabalhavam a terra e as máquinas, e viam o seu esforço evaporar em recompensas aquém da força dispendida, em prémios curtos até para curar a fome. Digo com isto, que é difícil encontrar tamanho relativismo num conceito, como aquele que liberdade possuí. Da mesma maneira que midas tentou tornar outro tudo aquilo em que tocasse, também há os que não deixam de tentar oprimir, tudo o que a sua liberdade pode tocar.


O discurso de Aguiar Branco é paradigmático e marca o que é um traço de generalização abusivo, comum a várias vozes. Todas as suas palavras têm por premissa juntar tudo e todos no mesmo caixote, e por-lhe depois o carimbo "povo". Fica bem dizer isso. É inteligente até. Ricardo espírito do santo era povo (?). Todos somos povo. Mas dentro do povo há fortes e fracos, e contrariar esse facto é fugir à necessidade de medidas que protejam uns e limitem a vontade de desproteger, de outros. A obcessão em rever a constituição não é mais que o negar dessa necessidade.



Disse um padre francês, Lacordaire: Entre o forte e o fraco, é a liberdade que oprime e, a lei que liberta. Não encontro nem em Lenine, nem em Rosa Luxemburgo, nem em Sérgio Godinho, frase que melhor espelhe o perigo que é gritar liberdade para o mesmo povo do "operário da Lisnave e do seu accionista". Aposto que Aguiar Branco também não.



Povo, é iniciativa privada à mercê de quem queira e não só de quem possua recursos para poder. Povo, é a iniciativa privada de quem consegue e da iniciativa privada a quem não tem capacidade para conseguir. Liberdade consegue-se mais ou menos da mesma forma, digo eu.

1 comentário:

  1. ainda bem que só é você a dizer, pequeno estalinista.
    retalia Ana

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