domingo, 29 de março de 2009

Lugares Comuns(I)

Adoro histórias de lugares comuns, inevitáveis, cinematográficos. Cenários absolutamente previsíveis - cliché, sabem?


- O Arranha-céus

Absolutamente incrédulo, a Teresinha olhar de tão alto os Homens, seu cão Jeremias e aquele ceguinho que curtia o barulho, o calor, e a agitação de estar no meio da multidão histérica. – Porquê ela, a pobre Teresinha? Perguntavam-se em uníssono. O cão ladrava, e o ceguinho perguntava pela menina, embora nunca a tivesse visto mais gorda. (E nem mais magra, claro). O Padre implorou em altifalante, Madalena sua mãe teve 3 AVC’s em 15 minutos, o ex-namorado mentiu – afinal descobriu que gostava de homens, sim, foi por isso Teresinha. Ninguém queria que Teresinha voasse daquela maneira. Mas ela queria, e abriu as asas. As sirenes tocaram em câmara lenta, sabem? Os clássicos NÃO ecoaram, as mãos levantaram-se para os céus – Agarra-a Jesus! – Até se ouviu algures. Mas Ele devia estar ocupado, na sanita, sei lá, e logo Teresinha aterrou. Mesmo em cima do ceguinho. Engraçado não é? Ele só queria estar quentinho, e ter um pouco de atenção. Morreu aparando a queda da exibida da Teresinha, garota mimada. Se fosse minha filha levava uma sova…


- A Varanda

É óbvio que o Martins não ia passar o fim-de-semana em Cucujães com os velhos. Já se penteava com um gel verde, de aparência bastante radioactiva, e usava as calças no fundo do rabo. Um Homenzinho da nossa geração. Foi estudar para a varanda. Foi ler para a varanda. Foi ver a paisagem na varanda. Pronto! Foi mandar mensagens para a varanda. E deu-se ali encarcerado, 2 horas depois, quando procurou entrar para carregar o aparelho. Sem intenção, e sem saída. Primeiro pensamento: já não ia haver hambúrgueres, como tinha planeado. Viveu que nem um animal, 2 dias inteiros. Bebeu a água que choveu 3ª Feira, contorcendo a língua nos cantos sujos do chão de azulejos, jantou os rebentos de tulipa que surgiam no canteiro, sempre, na primavera. Armadilhou o parapeito da varanda, e conseguiu caçar 2 pombas. Uma devorou, assada com o isqueiro que tinha no bolso, com penas bem torradas, e temperada com umas ervas que ia fumar – não tinha paciência nenhuma, aquele rapaz. A outra chamou de Juliana a conversou com ela sobre o último episódio de Morangos com Açúcar. Dormiram por baixo da mesa, e de manhã o Martins arrancou-lhe as asas e preparou o pequeno-almoço para os dois. Ela não quis, estranhamente, e ele zangou-se, chamou-a de puta e mandou-a da varanda. Depois arrependeu-se, mas às vezes é tarde para isso.


- O MacDonald’s

O clássico, o predilecto. Aquele que penso sempre, que me ri baixinho por dentro.

É claro que tem que estar sempre uma fila tremenda. Hipótese: Crianças em excursão, uma tribo de cabeças de acne a prepararem 400 tabuleiros de 400 happy-meals e cocas-colas ridiculamente pequenas. Aquele dia em que questionamos, porra, porque se chama fast-food? E depois de todos os preliminares repetidos 3 vezes, finalmente me perguntam, quando a cabeça já orbita em torno da ira do ego – “Senhor, vai pagar com dinheiro?” – Ai, que vontade de responder – “Não senhora, com galinhas.”

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