segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

Minipreço

Já não apanhava um susto assim desde que o Oscar Cardozo marcou o segundo golo do Benfica, feito que de positivo teve apenas o espicaçar de um jogo do tipo “mais-do-mesmo” com o a vitória Leonina a revelar-se mais quotidianamente monótona do que surpreendente. Bem, tudo fica bem quando acaba bem. O tal susto, esse passou-se por volta das duas da tarde na fila do Minipreço, quando após ter pisado os calcanhares de uma certa senhora com o carrinho de compras, ela se vira para trás (de sorriso maroto nós lábios) e diz: Deixe lá, não há crise. Estava eu distraído com a simpatia das formas adelgaçadas dos bolsos traseiros das calças da dita cuja que não dei conta do meu desastrado atropelamento. E logo, estranhei o seu comentário: Não há crise????!! (pensei). De coração acelerado lá demorei uns dois minutos a interpelar a sujeita: Desculpe? Não há crise? Respondeu, docilmente: Pisou-me com o carrinho das compras, idiota. Ah bom, suspirei, mais descansado.

De facto, nesses dois minutos tudo me passou pela cabeça, num pânico não aconselhável a cardíacos. Orgulho-me de trabalhar numa empresa de penhores e mais, de ser funcionário qualificado e dedicado num McDonalds. De facto, sou empregado do mês de ambas as instituições e eram vários os prémios que havia ganho, dado o volume de tarefas levadas a cabo nas minhas duas ocupações. Tais prémios valiam-me uma certa sustentabilidade económica, além de serem pretexto de admiração pelos meus parceiros de póker nas quintas à noite... Parceiros desempregados, que viam no jogo a derradeira tábua de salvação orçamental (apostando claro está, o abono de família dos seis filhos).

O que seria do meu conforto, caso a crise desaparecesse? Que bens iria ter a felicidade de penhorar, com a frequência com que hoje o faço? Quem iria dar 5 euros por um Big Mac (além de rápido, barato) com refeições (um conceito antagónico a Menu) no balcão do lado, tão mais caras quanto saudáveis? Pior, quão ridícula seria a minha presença na fila do MiniPreço, caso a crise tivesse acabado? Não, pior, que iria eu fazer quinta à noite, se os meus prezados companheiros de jogo recuperassem o emprego? Tenho a certeza que sou o único a jogar por prazer... E não sei do que gosto mais... Ganhar dinheiro, congratular-me espalhafatosamente pelos meus triunfos profissionais ou apenas sentir o desespero dos outros.
Sim, assustei-me.

Ainda bem que o fim da crise, é mentira.

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